domingo, 3 de maio de 2009

Reencontro.

Ele atravessou a avenida e entrou no ônibus. Fez sinal ao outro que apertou o passo para acompanhá-lo. Faziam uma viagem juntos, talvez a primeira em anos. Reviam o Rio de Janeiro, um convívio antigo, tempo em que iam vez ou outra para uma temporada em família, nas férias escolares. Não tinham muito tempo, a escala era de apenas um dia. A escolha fora rápida, assim sem muito pensar, nenhuma discussão, vamos lá e pronto. Passaram uma manhã radiosa naquele parque esplêndido, de tempos imperiais, o verde vibrante, a mata conservada, em meio às palmeiras, as alamedas floridas, regatos e lagos bem cuidados. Um bom sinal. Um bom começo, esse no Jardim Botânico. Perceberam que havia uns trinta anos que não entravam ali.
Rezaram juntos no Mosteiro de São Bento, ali no Largo da Carioca. Uma ida à Colombo, o almoço no restaurante de outrora. Caminharam em lugares que ainda restam elegantes no Rio, esse Rio de maus tratos burros, de gerência fraca em tantos desgovernos inúteis e que ainda reina lindo. E de soberana beleza.
Reembarcaram à noitinha. Viajar em um navio é uma experiência interessante e hedonista. A imensidão do mar nos recoloca na devida dimensão. A soberba eventual desaparece. Afloram prazeres, um suceder de sabores, aportar em lugares mágicos, o descompromisso se instala. Assim leves, reviram experiências, trocaram valores, apararam arestas. Dessas de origem, um tanto profundas, quem sabe, construídas na tarefa do educar, estabelecer limites, ensinar vivências, do aprender. Tão comuns e constates no trato do dia a dia. Leves, falaram tudo. Lembraram ocasiões, já sem qualquer rigidez ou mágoa. Riram tudo. Jogaram, beberam, brincaram. Andaram sem pressa por Búzios, um caminhar dolente pela Rua das Pedras, num dia radioso de quase ninguém, que acontece sempre fora das temporadas, livres de horda de turistas, nessa pequena vila de fuso horário tão diverso.
Navegaram por lugares já de há muito conhecidos, de outros tempos, de épocas em que eram apenas pai e filho, lembraram muito da mulher e mãe, já morta. Da Ubatuba ainda quase deserta, da época da adolescência, de matas e águas muito preservadas, de muita paz. Viram ao longe a Ilha Bela, um lugar mágico.
Ficaram uns tantos dias, um giro curto em família. Os irmãos não se entusiasmaram. Uma ocasião rara. Dividiram tudo, conversas, humores, sabores. Partilharam vivências. Descobriram suas essências comuns. Não eram mais apenas pai e filho. Sentiram-se parecidos. Eram amigos, afinal.

2 comentários:

luzia disse...

Marcelo, gosto do jeito que escreve, como se a vida seguisse lenta e macia. Nesta correria em que vive a humanidade, "te ler" é um verdadeiro descanso. Bjs

fagatha disse...

que gostoso de ler!!!!!
de uma suavidade impar!
como sempre, a expectativa de mais e mais.
achei bárbaro!
bj.